sábado, 22 de outubro de 2011

Fisioterapia com Fisioterapeuta!

Caros colegas. Temos nos salários pagos aos fisioterapeutas um dos maiores problemas para o crescimento da profissão. Digo crescimento no sentido de estímulo, satisfação e realização profissionais.
Vários aspectos devem ser analisados para que uma ação efetiva seja levada a cabo.
Esse problema não é recente, mas vem se agravando na medida proporcional em que a competitividade e a aparente falta de mercado aumentam.
É fundamental entendermos o que acontecia no passado e que é uma prática efetivada no Brasil até hoje, se buscarmos quaisquer fontes de pesquisas do IBGE. O salário pago às mulheres é mais baixo do que aqueles pagos ao homem. A categoria da fisioterapia é formada, em sua maioria, por mulheres. Quando citei o que ocorria no passado era um fato bastante comum termos fisioterapeutas do sexo feminino que exerciam a profissão como um “hobbie” para sua satisfação pessoal, durante meio período do dia e sem nenhum estímulo de crescimento profissional. Como estava era bom; é desagradável citar isso, mas ocorria muito. Um outro ponto importante mencionarmos na raiz desse problema é a formação antiga do fisioterapeuta. Nem todos sabem, mas a fisioterapia no Rio de Janeiro cresceu e se firmou a partir da Associação Brasileira Beneficente de Reabilitação (ABBR). Um grupo de médicos ortopedistas, reumatologistas e neurologistas importaram a idéia da medicina física e reabilitação dos Estados Unidos e Europa e passaram a aplicá-la aqui. Surgiu um grande problema: quem iria “executar” as técnicas de tratamento fisioterápico? Foi, então, criado um curso técnico voltado essencialmente para a prática e os alunos possuíam nível médio de formação, usando calça jeans, tênis e camiseta branca como uniforme.
Essa lagartixa se transformou em um jacaré que se voltou contra esse grupo e a fisioterapia cresceu; passou a nível superior na década de 1960 e, quando ocorreu a regulamentação da profissão em 1969 pela junta militar que governava o país, todos aqueles de nível médio foram agraciados com o título de nível superior. Foram sem dúvida, grandes heróis esses profissionais, mas a base da profissão era puída.
A noção que se tinha e a que se tem ainda hoje da fisioterapia é de uma coisa menor. A principal categoria de nossos pacientes de hoje é formada por idosos, jovens àquela época e com essa visão distorcida ao longo das décadas. Tudo isso contribuiu para que a fisioterapia fosse distorcida e aviltada, pois parece uma coisa que todo mundo aplica, que todo mundo conhece.
Observem uma distorção que todos nós usamos no dia a dia e que contribui para essa desvalorização: quando alguém relata para você algum problema orgânico, qual é a pergunta? Você está fazendo tratamento médico? Se o problema citado é odontológico, qual é a pergunta? Você está fazendo tratamento dentário? E com relação à fisioterapia? Você ESTÁ FAZENDO fisioterapia? Quem faz fisioterapia é o acadêmico da graduação, os pacientes fazem tratamento fisioterápico. Na prática quem valoriza dessa maneira?
Um outro problema crônico e que voltou a aumentar na última década está relacionado aos fisioterapeutas. De forma crescente, vemos ex-alunos cursando medicina, enfermagem, nutrição, farmácia, além de educação física. Alguns buscam outras categorias por apresentarem melhores salários, mais vagas em concursos públicos, maior estabilidade; outros buscam porque queriam ser médicos e /ou odontólogos e, não conseguindo, iniciaram pela fisioterapia como um trampolim. Ora, se essas pessoas buscaram o curso de fisioterapia frustrados porque queriam outra formação, que vínculo, que engajamento, que comprometimento vão ter com a fisioterapia e suas lutas?
Basicamente nada vão fazer para ajudar a trazer de volta com maior ênfase a credibilidade e a respeitabilidade da fisioterapia junto aos profissionais da equipe de saúde.
Eu costumo chamar isso de cultura fisioterapêutica. Outras categorias mais antigas e mais sedimentadas possuem essa cultura. A fisioterapia como é mais recente, com vários problemas estruturais e com várias deformações, não a possui e isso interfere bastante.
Os cursos pré-vestibular continuam enaltecendo medicina, engenharia e direito. Será que só existem essas profissões?
Será que somente essas profissões são respeitáveis?
Será que as pessoas só serão felizes e realizadas nessas três opções? Os pais ficam muito satisfeitos e orgulhosos com essas escolhas; olham com desconfiança outras alternativas – fisioterapia então, …
O aluno de medicina, direito, educação física, engenharia etc., já incorporam o profissional quando o curso começa. E o fisioterapeuta? A grande maioria dos alunos não sabe o que é fisioterapia ao iniciar o curso e, o que causa mais preocupação, continua sem saber ao terminar o curso.
Felizmente, temos alunos que percebem isso claramente e serão fisioterapeutas de forma visceral como eu sou e muitos colegas espalhados pelo país também o são; mas somos poucos ainda para atender as necessidades da população brasileira. A criação dessa consciência, vai gerar um profissional lutador, participante ativo do processo de crescimento que queremos, vai correr na frente e não atrás como é costume para que perdeu a oportunidade.
Esses problemas estruturais que citei estão longe de serem os únicos, mas ajudam a entender evolutivamente alguns aspectos.
Vamos organizar grupos permanentes de trabalho no Brasil todo; os pacientes não podem esperar!!!!!!!!